domingo, 28 de agosto de 2011

"Mas eu quero desse tudo dizer também o que aí se oculta."





"O amor é tão monótono, querida. Porque ele é o cimo sensível de uma imensidade de coisas que se esqueceram. Como falar desse mínimo que é o vértice de todo um mundo que o sustenta? Falar de nada, que é o todo nele? Sandra. Podia dizer o teu nome infinitamente na multiplicação do que nele me ressoa. E é assim o que mais me apetece, dizê-lo dizê-lo. E ouvir nele o maravilhoso que me abala todo o ser. Poderia escrever o teu nome ao longo do que escrevo e teria talvez dito tudo. Mas eu quero desse tudo dizer também o que aí se oculta. Dizer o meu enlevo e a razão de ele me existir. As tuas mãos nas minhas. O incrível miraculoso de eu dizer o teu rosto. O ardor de um meu dedo na tua pele. Na tua boca. O terrível dos meus dedos nos teus cabelos. O prazer horrível até à morte da minha entrada no teu corpo."

Vergílio Ferreira in Cartas a Sandra

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

"Não digas nada!
Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade em nada se dizer
E tudo se entender -
Tudo metade
De sentir e de ver...
Não digas nada
Deixa esquecer

Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada...
Mas ali fui feliz
Não digas nada."


Fernando Pessoa
Fonte de imagem: algures no ciberespaço

"Quem me dera um sossego à beira-ser "



"Sim, tudo é certo logo que o não seja.
Amar, teimar, verificar, descrer.
Quem me dera um sossego à beira-ser
Como o que à beira-mar o olhar deseja.."

Fernando Pessoa, Poesias Inéditas

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Porque amar é preciso




Quase por acaso, descobri este poema por uma qualquer sincronicidade que não sei ainda explicar, mas a verdade é que todos os seres deviam amar assim:



Amor Pacífico e Fecundo

Não quero amor
que não saiba dominar-se,
desse, como vinho espumante,
que parte o copo e se entorna,
perdido num instante.

Dá-me esse amor fresco e puro
como a tua chuva,
que abençoa a terra sequiosa,
e enche as talhas do lar.
Amor que penetre até ao centro da vida,
e dali se estenda como seiva invisível,
até aos ramos da árvore da existência,
e faça nascer
as flores e os frutos.
Dá-me esse amor
que conserva tranquilo o coração,
na plenitude da paz!


Rabindranath Tagore, in "O Coração da Primavera"
Tradução de Manuel Simões in www.citador.pt
Fonte de imagem: algures no ciberespaço