quinta-feira, 6 de novembro de 2008

"O que há em mim é sobretudo cansaço"

Um destes dias reli parte de um poema de Álvaro de Campos no blog d'O Rapaz que não Chora que era realmente o que sentia naquele instante. Tão simplesmente sobre cansaço.

O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço...


Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa

2 comentários:

Pedro disse...

Espero que já não te sintas tão cansada...

BraveJane disse...

Obrigada pela preocupação :)
Nada que umas boas férias não ajudem a resolver... e está quase. Já só falta um dia de trabalho!