sábado, 12 de julho de 2008

Amizade

Sobre a Amizade deixo um pouco de 'Gostar (acima de tudo)' de um dos meus escritores favoritos, Miguel Esteves Cardoso, no livro Explicações de Português. É um excerto que já tenho passado a alguns Amigos e que marca cada vez que é lido.

"Os amigos nunca são para as ocasiões. São para sempre. A ideia utilitária da amizade, depósito de confiança, sociedade de desabafos, mete nojo. A amizade é puro prazer. Não se pode contaminar com favores e ajudas, leia-se dívidas. Pede-se, dá-se, recebe-se, esquece-se e não se fala mais nisso.

[...] Se alguém 'falta' ou 'não corresponde', se não cumpre as obrigações contratuais, é logo condenado como 'mau' amigo e somariamente proscrito. Está tudo doido.

Os amigos têm de ser inúteis. Isto é, bastarem só por existir e, maravilhosamente, sobrarem-nos na alma só por quem e como são. O porquê, o onde e o quando não interessam. [...]

A amizade é fácil. [...] Ser amigo é só ser.

Ser amigo é ser e deixar ser. Livre. [...]

Os amigos não se perdoam nem julgam. Têm-se ou não se têm. Falam. Gozam. Riem. As diferenças entre eles unem-nos, ocupam-nos, divertem-nos. [...]

Os amigos [...] nunca se zangam. Porque, podendo ser maus e fazer o mal que quiserem, sem que isso mude nada, não são capazes de fazer mal uns aos outros. Se há alguém que acha que isto não é verdade, tem azar. Nem sequer se pode dizer que se traiam, porque não se consegue trair um amigo. Só não sendo amigo.

A amizade é a única anarquia no mundo. Vive-se e mais nada. Diz-se e ouve-se e faz-se tudo. [...]"

1 comentário:

Pedro disse...

Gosto muito, sobretudo do
"Os amigos têm de ser inúteis. Isto é, bastarem só por existir e, maravilhosamente, sobrarem-nos na alma só por quem e como são. O porquê, o onde e o quando não interessam."